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Os Pilares da Esgrima: A Estrutura que Sustenta toda Técnica

Toda arte possui uma estrutura, ou seja, uma organização de seus fundamentos e princípios de onde toda técnica emerge. Quando pensamos na estrutura da esgrima, podemos pensar em um prédio com quatro pilares. O alicerce do prédio são as causas, as motivações; os pilares são os princípios e os meios que usamos para construir as técnicas, táticas e estratégias.




As Causas: Motivações e Contextos

As causas são as razões ou motivações que surgem dos diversos contextos. Numa situação de duelo, a causa, ou razão de ser, é a sobrevivência. Em situação de defesa pessoal, a causa é escapar do assalto, agressão. Em batalha, a causa é lutar em linha e dar suporte aos outros, enquanto controlamos o espaço. Quanto mais causas, mais ampla é a arte, e mais há para se aprender.


O chão, onde construímos o alicerce, é a causa: a motivação que governa a postura e mecânica. Então construímos os quatro pilares: medida, cobertura, linha e tempo. Os pilares sustentam as técnicas, táticas e estratégias de combate.


Em publicações futuras abordaremos cada um dos pilares de forma detalhada. Vejamos agora, uma breve descrição de cada um deles e seu uso prático.


Medida

Medida é o entendimento e controle da distância, seja ela defensiva ou ofensivamente. É onde preciso estar ou chegar para executar a técnica. A medida tem relação direta com o jogo de pés e passos que devemos usar para golpear o oponente.


No nosso sistema, estabelecemos ao todo cinco medidas:

  1. fuora misura.

  2. misura larghissima.

  3. misura larga.

  4. misura stretta.

  5. misura strettissima.


Cobertura

Cobertura é o controle sobre as linhas de ataque do oponente: capacidade dele de nos golpear. Cobertura é um princípio defensivo: a forma que devemos colocar a espada pra nos defendermos do oponente. Novamente, seja durante uma ação ofensiva, seja defensiva.


A cobertura é uma aplicação das três vantagens:

  1. Fio verdadeiro.

  2. Alavanca.

  3. Cruzamento.


Além disso, cobertura é fundamental na aplicação de stringere: o uso estratégico da posição ou ação de lâmina, a fim de limitar as opções do oponente.


Linha

Linha é o controle da oportunidade: nossa capacidade ofensiva de chegar ao oponente. Podemos pensar em linha e cobertura como dois lados de uma mesma moeda. Cobertura é a capacidade do oponente de nos atacar; linha é a nossa capacidade de atacá-lo.


Não confundir com "modo" de combate atacar ou defender. Podemos pensar em defesa enquanto atacamos, na verdade, pensamos simultaneamente. Pode ser ao receber um ataque e como criar a linha para contra golpear; ou iniciar um ataque e pensar em como se proteger com este ataque, onde está a oportunidade, e onde está a cobertura que permite golpear o oponente de forma segura.


Existrem quatro linhas de ataques:

  1. Dentro

  2. Fora

  3. Alto

  4. Baixo


Todos os ataques são uma combinação de dentro/fora, alto/baixo. Em caso de múltiplas armas (i.e., rapieira e adaga, ou duas espadas), é possível estar com uma arma por dentro e a outra por fora, ou ambas por dentro. As linhas podem estar abertas, restritas ou fechadas.


Tempo

Entendemos tempo como unidade de tempo, como oportunidade, como duração e proporção. Tempo pode ser visto como unidade de movimento: a pausa entre duas ações, ou a ação entre duas pausas. Pode ser visto como a velocidade e rapidez do movimento. Também pode ser visto como duração e comprimento do movimento, facilitando a comparação entre duas ações (proporção). E por último, podemos considerar tempo como oportunidade ou momento de agir.


Os quatro tempi, ou oportunidades de ataque são:

  1. Primo Tempo

  2. Mezzo Tempo

  3. Contro Tempo

  4. Due Tempi


Aplicação Prática

Devemos usar os quatro pilares para analisar toda e qualquer ação nossa ou do nosso oponente. Se as ações (técnicas, táticas e estratégias) estão acentadas sobre os pilares, devemos avaliar se a estrutura das ações está correta.


Técnica é a ação propriamente dita. Tática são as opções que surgem da interação com o oponente. Estratégia, do grego, stratigikí, (brincadeira!). Estratégia é o objetivo final da técnica.


Podemos então usar os quatro pilares para questionar e diagnosticar situações particulares num combate, ou como elas ocorreram. Foi golpeado? Falhou ao tentar golpear o oponente?


Questione:

  • "Eu estava na medida certa?"

  • "Eu tinha cobertura?"

  • "Eu estava trabalhando numa linha, i.e., criando uma oportunidade e golpeando numa linha adequada, que estava aberta?"

  • "Agi no momento certo?"


Exercício

  1. Construa um jogo com quatro ações simples. Determine as guardas iniciais, distância entre os jogadores e a oportunidade de ataque apresentada.

  2. Mude a medida do jogo. Analise como isso altera as técnicas utilizadas.

  3. Volte para o jogo original e mude a cobertura. Analise as alterações que surgem.

  4. Volta ao jogo original e mude a linha. Analise as opções táticas que surgem.

  5. Por último, volte ao jogo original e mude o tempo. Analise as alterações.


Deixe nos comentários o jogo que você construiu e quais alterações de medida, cobertura, linha e tempo você observou. Quais opções táticas surgiram? Como as técnicas mudaram? Quais oportunidades surgiram?

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