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Forjando a Maestria: Os Três Mandamentos para Transformar Técnicas de Esgrima em Arte Viva

Imagine o seguinte cenário: fechamos vinte pessoas dentro de uma sala, as deixamos lá experimentando técnicas de esgrima e lutando com espadas umas com as outras por vinte anos. Que condições precisaríamos criar a fim de que, ao saírem de lá, elas tenham criado técnicas de esgrima próximas às presentes nos tratados históricos, em que as pessoas lutavam de verdade? Em outras palavras: "como criamos uma esgrima autêntica?"



Na busca pela autenticidade na esgrima histórica, nos deparamos com um intrigante trinômio: as armas corretas, o respeito devido e o contexto apropriado. Esses são os três mandamentos que não apenas moldam a técnica, mas também incorporam a alma dessa arte marcial.


Devidas Armas - O Alicerce da Prática

As armas certas são como os pincéis de um artista ou as notas de um músico. Elas são as ferramentas que moldam a expressão do esgrimista. Devemos sempre utilizar equipamentos de treino, simuladores, que se aproximem ao máximo às espadas e armas reais. Para isso, elas devem ter as medidas, peso, equilíbrio e material semelhante às históricas. É interessante, também, visitar museus e, se possível, manusear equipamentos históricos, para entender a arma de estudo, pois esta é a nossa primeira professora da arte.


Devido Respeito - Honrando a Tradição

Respeito é a base de qualquer prática marcial autêntica. Respeito às armas, à arte, aos mestres que a transmitiram e à história que ela carrega. Devemos respeitar a arma e tratá-la como sendo afiada e mortal. Entender quais partes da espada causam dano e o quanto de força/energia é necessário para causar dano. Não devemos considerá-la meramente como uma ferramenta para marcar pontos, pois se assim fizermos, estaremos criando uma arte totalmente diferente.


Devido Contexto - Reconstruindo o Passado

O contexto é o tecido que une os fios da técnica. Entender as circunstâncias históricas, as táticas de combate da época, a mentalidade dos esgrimistas do passado e os diferentes contextos em que os encontros ocorriam é crucial, pois o ambiente físico alterava como a arte era aplicada. Os mestres de armas italianos esperavam que as técnicas de esgrima que eles ensinavam fossem postas à prova na salla, na defesa pessoal improvisada, no campo de batalha e no "campo de honra" dos duelos. Para cada caso, eles advogavam ajustes nas táticas; e estes ajustes eram feitos dentro da mesma arte. Podemos adicionar à lista os ambientes de torneio, históricos ou modernos, a introspectiva prática solo, e outros.


Sendo assim, devemos criar o máximo de contextos possíveis, desses que fazem parte da tradição histórica, a fim de agir sob diferentes circunstâncias em que só as técnicas corretas para o dado contexto serão mais bem-sucedidas. O contexto também nos faz avaliar quais técnicas não fazem sentido para aquela situação.


Contexto Social

Outro fator importante de se considerar é o contexto social em que a arte será aplicada. Antonio Manciolino, mestre dos anos 1500, diz que um homem valente nunca recua para se defender. Isso nos faz pensar sobre a pressão social que existia para não parecer um covarde durante um combate. Imagine, morrer pela espada do oponente seria um desfecho menos doloroso do que recuar e morrer pela espada do escárnio social. Logo, é importante reconhecer o quão forte esse ambiente social é construído e como ele molda e define a arte a ser praticada.


Filosofia Marcial

Na jornada rumo à maestria, é essencial priorizar a prática de uma arte marcial genuína, não apenas um esporte. A aplicação dos mandamentos nos mantém ancorados na autenticidade dessa prática, permitindo-nos explorar a essência marcial e evitar desvios.


Além disso, ao ensinar essa arte, buscamos transmitir uma tradição viva, não ressuscitar algo estático. Os mandamentos nos conferem a liberdade de aprimorar e evoluir, mantendo-nos fiéis à natureza marcial fundamental da arte que abraçamos.

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